II – A DESCRIÇÃO DA CRIAÇÃO DO HOMEM
Em Gn.1:26, temos a deliberação divina para a criação do ser humano. No versículo seguinte, é dito que, conforme havia deliberado, Deus criou efetivamente o homem, à Sua imagem e semelhança. No entanto, traz o texto sagrado uma nova informação, quando afirma que aquilo que Deus havia deliberado se cumpriu. Afirma que o homem foi criado sexuado, pois é dito que “macho e fêmea os criou”.
- Temos aqui mais um fator distintivo da criação do homem em relação aos demais seres. Além de ser o único ser criado com um componente material e outro espiritual, a mostrar que seria o elo entre os céus e a terra, o ser que fazia o “link” entre o mundo material e o mundo espiritual, o ser humano, também, foi o único ser moral sexuado criado.
- Até o surgimento do homem, Deus havia criado os anjos como seres morais, mas os anjos, como nos ensina o Senhor Jesus, são seres assexuados (Mt.22:30; Mc.12:25; Lc.20:35,36), como também havia criado seres sexuados entre os animais, mas seres que eram despidos de moralidade (Gn.2:19,20). Assim, o ser humano é o único ser moral sexuado.
- Quando dizemos que Deus criou o ser humano sexuado, queremos afirmar que homem e mulher são complementares, tanto assim que o texto sagrado aponta que ambos formam “uma só carne” (Gn.2:24), ou seja, homem e mulher precisam um do outro, para que possam ser uma “unidade”. Na sexualidade, Deus quis trazer mais uma projeção de Sua imagem no ser humano, quis estabelecer mais uma semelhança, qual seja, a comunhão, a unidade. Assim como Deus é único, um só (Dt.6:4), embora seja uma “realidade plural” de três Pessoas, o ser humano também seria único, quando houvesse a união de um homem e de uma mulher, embora houvesse, também, a distinção das “partes”, dos “sexos” masculino e feminino.
- A palavra “sexo”, aliás, nada mais quer dizer senão “parte”. Homem e mulher são “partes” da humanidade, que, ao se unirem, formam “uma só carne”. Não é, portanto, surpresa que o casamento seja a principal figura utilizada nas Escrituras para descrever a comunhão, a união que deve haver entre Deus e o homem (o livro de Cantares de Salomão; Os.2:16; Ef.5:22-33).
- Também não é surpresa que, diante desta realidade bíblica, o “espírito do anticristo” esteja, em nossos dias, a fomentar a terrível “ideologia de gênero”, ideia segundo a qual a sexualidade é apenas uma “construção cultural” e que os seres humanos é que decidem se serão “masculinos” ou “femininos”. Tais pensamentos de nítida origem satânica evitam, inclusive, o uso da palavra “sexo”, pois tal vocábulo mostra que homem e mulher são “partes” de uma unidade que somente exsurgirá quando da união de ambos. Deus fez o homem um ser sexuado, criou duas “partes distintas” na humanidade: o homem e a mulher.
- A forma como Deus criou macho e fêmea, porém, não é descrita na sequência do capítulo 1 do livro de Gênesis. O texto apenas afirma que “macho e fêmea” foram abençoados por Deus e que lhes foi dada a incumbência de frutificar, multiplicar-se e encher a terra, bem como dominar sobre toda a criação, tendo, para tanto, o Senhor dito que toda a erva da terra lhes era dada por alimento, assim como ocorria com os demais animais, encerrando-se, então, a narrativa da criação, que era muito boa aos olhos do Senhor, terminando, assim, o dia sexto da criação.
- O capítulo 2, porém, depois de dizer que, no dia sétimo, Deus acabou toda a criação e descansou, tendo, então, abençoado este sétimo dia e o santificado, passa a descrever como se deu a criação do homem, a nos mostrar, pois, que o capítulo 2 se encontra cronologicamente no sexto dia da criação, entre Gn.1:27 e Gn.1:28.
- O texto sagrado diz-nos que, por primeiro, Deus criou o macho, Adão, nome que, em hebraico (“ ’adamah ” – אדם), significa “terra” ou “homem de terra vermelha”, a indicar que, como já vimos, foi feito do “pó da terra”. Alguns estudiosos, de forma convincente, acham até que este foi o nome dado tanto ao homem quanto à mulher antes da queda, já que, somente após a queda, é que é dito que a mulher recebeu o nome de “Eva” (Gn.3:20), o que seria uma demonstração de que, com o pecado, a unidade perfeita original havia sido quebrada.
- Deus, como já vimos supra, tomou o pó da terra, que é a síntese de todos os elementos químicos existentes no Universo, formou o corpo do homem e, depois, soprou em suas narinas o fôlego de vida, gerando, assim, tanto o espírito quanto a alma do homem.
- Em seguida, o Senhor plantou um jardim no Éden, a fim de ali pôr o homem que havia criado (Gn.2:8-14), a indicar que a natureza foi criada para o homem e não o contrário, como está a defender o movimento ecológico, notadamente os segmentos mais radicais. O homem foi criado para dominar sobre a criação terrena e o fato de o Senhor ter formado um jardim no Éden para ali pôr o homem é a demonstração da prioridade que o homem tem em relação ao meio-ambiente.
- Este jardim formado por Deus para o homem possuía todos os elementos necessários para o cumprimento do propósito divino para o ser humano. Havia ali, por primeiro, toda a árvore agradável à vista, pois o ambiente em que viveria o homem deveria contribuir para a sua saúde mental, para a existência de um ambiente favorável à psique do ser humano.
- Por segundo, Deus fez brotar neste jardim toda árvore boa para comida, pois, como já dito, Deus estabeleceu que os vegetais seriam o mantimento tanto para o homem como para os animais (Gn.1:29,30), a mostrar que, até o dilúvio, todos os animais eram herbívoros, inclusive o homem. A natureza foi criada para poder dar o devido sustento ao homem, que, tendo um componente material, dependia de alimentação para a sua sobrevivência.
- Por terceiro, Deus fez brotar neste jardim a árvore da vida, que ficava no meio do jardim, árvore que representava a comunhão que deveria haver entre Deus e o homem. Através desta árvore, o homem tinha a noção de que não era apenas um ser vivente sobre a face da Terra, mas, sim, um ser escolhido pelo Senhor para dominar sobre toda a criação terrena, dominação esta que dependia da comunhão que teria com o seu Criador.
- Por quarto, Deus fez brotar neste jardim a árvore da ciência do bem e do mal, que era uma árvore que denunciava a soberania de Deus sobre todas as coisas e a necessidade de o homem se submeter ao senhorio de seu Criador. Esta árvore era interdita ao homem, era o sinal da necessidade da obediência e da harmonia que deveria haver entre a vontade de Deus e a vontade do homem que havia sido criado para dominar sobre toda a criação terrena.
- Por quinto, neste jardim, o Senhor também criou um rio, que tinha quatro braços, que davam os limites do jardim. Mais uma vez, vemos que a água é elemento essencial para que haja vida sobre a face da Terra, ou, ainda, em todo o Universo. Estes quatro braços do rio foram chamados de Pisom, Giom, Tigre e Eufrates, o que nos permite verificar que o Éden se situava na Mesopotâmia, que é reconhecidamente o berço da civilização humana, pois somente o Tigre e o Eufrates continuaram a existir, pelo menos após o dilúvio.
- “Pisom” significa “canal”, “correnteza cheia”, “grande difusão de águas”. Tratava-se, pois, de um rio que tinha águas imensas. Este “rio de Deus”, portanto, era “imenso”, que dava condições mais do que suficientes para que houvesse vida no jardim e que houve condições de vida para o ser humano.
- “Giom” significa “irrompimento”, “rio corrente”, “fonte”, a indicar que o “rio de Deus” era a “fonte de água viva”, era a fonte da própria vida, não só a humana, mas de todos os seres que habitavam o jardim.
- “Tigre”, também chamado de “Hidequel” (Gn.2:14; Dn.10:4), significa “o rápido”, a indicar que o “rio de Deus” estava sempre presente, não se atrasava nem se adiantava em trazer vida para todo o jardim, para toda a criação terrena, ou seja, que o tempo criado por Deus para nele circunscrever a criação, estava sob Seu absoluto controle.
- “Eufrates” significa “irromper”, “o grande”, “o largo”, “o fértil”, a indicar que “o rio de Deus” remetia à grandiosidade do Criador e à certeza de que o jardim sempre seria fértil, sempre teria condições de manter e sustentar a vida que havia sido criada pelo Senhor.
- Depois de ter criado o jardim e nele posto o homem, Deus lhe deu instruções, regras que deveriam ser observadas pelo Seu mordomo.
- Por primeiro, Deus estabeleceu que o homem deveria lavrar e guardar aquele jardim (Gn.2:15). Ao assim determinar, Deus mostrou ao homem que ele, como administrador, como único ser moral a habitar aquele jardim, tinha condições de modificá-lo, de adaptá-lo às suas necessidades, enfim, de ser o criador da “cultura”, que nada mais é que o conjunto de elementos criados pelo homem para a sua vida terrena. “Lavrar” significa “modificar”, “amoldar” o ambiente segundo a sua vontade, segundo os intentos que exsurgem no interior do homem, de modo a que ele possa sobreviver sobre a face da Terra. Este é o chamado “mandato cultural” dado ao ser humano por Deus.
- Mas, além de “lavrar” o jardim, o homem também teria de “guardá-lo”, ou seja, o homem tinha o dever de preservar tudo quanto fora criado por Deus. Embora pudesse modificar o ambiente, o homem não tinha qualquer autorização para destruí-lo, para eliminar qualquer coisa que havia sido criada pelo Senhor. Resulta daí o dever de todo ser humano de preservar o meio-ambiente, algo que está tão em voga em nossos dias. A modificação possível do ambiente, como também o domínio do homem sobre a natureza, que foi criada em função do próprio homem, em absoluto significa o poder de o homem destruir o que Deus criou.
- Por segundo, Deus estabeleceu que o homem poderia comer de toda a árvore do jardim, com exceção da árvore da ciência do bem e do mal, que lhe foi interditada, pois, no dia em que isto fizesse, certamente morreria, ou seja, perderia a comunhão que tinha com o seu Criador (Gn.2:16,17).
- Ora, esta ordem dada por Deus ao homem mostra não só a moralidade do ser humano, como já dissemos supra, um dos aspectos da imagem e semelhança de Deus, como também mostra que o homem era uma criatura e, como tal, devia obediência e submissão ao seu Criador, apesar da posição singular que possuía na ordem cósmica.
- Nesta ordem, também, vemos que, ao mesmo tempo em que Deus criava o homem, criava um outro mundo ao lado do mundo físico, qual seja, o mundo ético, o mundo moral, como haveremos de ver amiúde infra, onde se determinou quais os princípios que deveriam reger a moralidade humana.
- Deus estabeleceu um limite para o ser humano, para as ações do homem que havia criado, a indicar que o homem, embora fosse imagem e semelhança de Deus, embora fosse o único ser moral sexuado, embora fosse um ser singular na criação terrena, estava abaixo do Senhor e Lhe devia obediência. Deus é o Senhor e o homem deveria ser Seu servo.
- Esta realidade tem sido objeto de “esquecimento” entre muitos falsos mestres, que estão a defender um homem que pode se relacionar de igual para igual com o seu Criador, como se fosse um “deus”, como é o caso da teologia da confissão positiva, que chega ao absurdo de dizer que temos “direitos” em relação a Deus e que Deus é “obrigado” a satisfazer as nossas vontades. Não é isto que depreendemos do texto bíblico, que mostra que o homem foi posto como uma criatura que, como toda criatura, deve obediência ao seu Criador, encontra-se num patamar inferior ao da Divindade (a propósito, inferior até mesmo aos anjos – Sl.8:5).
LIÇÃO Nº 3 – E DEUS OS CRIOU HOMEM E MULHER - Parte III
LIÇÃO Nº 3 – E DEUS OS CRIOU HOMEM E MULHER - Parte IIII