III – A ESTRUTURA DO LIVRO DE GÊNESIS – A TERCEIRA E QUARTA DISPENSAÇÕES
- Depois da narrativa do dilúvio, o livro de Gênesis passa, no nono capítulo, a descrever o chamado “pacto noaico”, ou seja, a aliança firmada entre Deus e Noé, onde se estabelecem as diretrizes para o repovoamento da terra, diretrizes estas que deram origem ao que se denomina de “dispensação do governo humano”, o período em que Deus tratou com o homem além da consciência com o próprio domínio da terra pelo homem que passou a ter não somente a governança do planeta mas a própria administração da justiça.
- Com o reinício da humanidade, Moisés relata o desenvolvimento desta nova comunidade formada pelos descendentes de Noé, a começar pela própria família de Noé, no episódio em que Noé se embriaga, o que motivou a maldição de Canaã por parte de seu avô.
- No décimo capítulo, Moisés traz-nos uma genealogia a respeito dos descendentes de Noé, mostrando, assim, a origem das nações que hoje temos em nosso planeta, tendo, no capítulo onze, explicado a dispersão das nações, com o episódio da confusão das línguas em Babel, que põe fim à dispensação do governo humano.
- Ante a rejeição da comunidade única de Babel, mister se fazia a construção de um novo povo de Deus, através do qual se poderia cumprir a promessa da redenção da humanidade e, por isso, o final do capítulo 11 é dedicado à genealogia de um dos filhos de Noé, Sem, de onde descenderia Abraão, que passa a ser o protagonista do livro a partir de então.
- A partir do capítulo 12 até o capítulo 25, temos o que se costuma denominar de “ciclo de Abraão”, ou seja, a narrativa da vida de Abraão, nascido Abrão, que, aos setenta anos de idade, foi chamado por Deus para deixar a sua cidade, Ur dos caldeus, para ser o pai de uma grande nação, nação esta de onde viria a “semente da mulher” prometida pelo Senhor ao primeiro casal no jardim do Éden.
- Tem início, assim, a dispensação patriarcal ou dispensação da promessa, período em que Deus tratou com a humanidade por meio dos “patriarcas”, aqueles que o Senhor escolheu para serem os pais de Israel, a nação que seria formada para dela vir o Messias, Aquele que restauraria a amizade entre Deus e os homens (Jo.4:22).
- Nestes quatorze capítulos, Moisés relata a vida do patriarca Abraão, sua chamada, sua peregrinação à terra de Canaã, os embates lá enfrentados, a demora de vinte e cinco anos para o cumprimento da promessa de que teria um filho, uma sequência de fatos que demonstram porque Abraão é conhecido como o “pai da fé”.
- Neste ciclo, temos a passagem de Gn.25:12-18 em que há a genealogia de Ismael, o filho que Abraão teve com a sua escrava Agar, dando-nos, portanto, a origem da nação árabe.
- A seguir, temos o chamado “ciclo de Isaque”, que abarca desde Gn.25:19, quando se relata o nascimento dos filhos gêmeos de Isaque, até o final do capítulo 27, onde o protagonista passa a ser o “filho da promessa”, ou seja, o filho que Deus havia prometido dar a Abraão. Isaque foi outro peregrino na terra de Canaã (Cf. Hb.11:8,9), que havia herdado a promessa de Deus dada a seu pai, que também enfrentou embates na terra de Canaã, mas que manteve a continuidade da fé de seu pai.
- A partir do capítulo 28 até o final do capítulo 36, o protagonista da história passa a ser Jacó, que posteriormente teve seu nome mudado para Israel (Gn.32:28), que, apesar de não ter sido o primogênito de Isaque, herdou as promessas feitas a Abraão, diante do desprezo que Esaú teve em relação à primogenitura (Gn.25:33,34).
- Moisés relata a ida de Jacó para Padã-Arã, onde ele formou a sua família, seus embates com o seu tio e sogro Labão, como também o seu retorno a Canaã, depois de vinte anos, quando, então, a exemplo de seu avô e pai, passou a peregrinar naquela terra. No “ciclo de Jacó”, é incluído o capítulo 36, que traz a genealogia de Esaú, o irmão de Jacó que desprezou a primogenitura e que deu origem à nação dos edomitas, que seriam históricos adversários do povo de Israel.
- A partir do capítulo 37, temos o chamado “ciclo de José”, em que o protagonista da história passa a ser José, o oitavo filho de Jacó (o sétimo filho homem) e primeiro filho de Raquel, que foi vendido pelos seus irmãos ao Egito e lá se tornou governador do Egito, para onde, durante os anos de fome que havia predito a Faraó, levou os seus familiares para morar.
- Neste “ciclo”, está o capítulo 38, onde se tem a história de Judá e de Tamar, um parêntese em que se mostra o “começo da tribo de Judá”, que é a tribo em que nasceria o Salvador.
- O livro do Gênesis termina com a morte de José e o povo de Israel no Egito, onde iria se formar como uma nação, de modo que temos aqui a história do “começo do povo de Israel”.
- O livro termina com a promessa feita pelos irmãos de José de que o corpo do governador do Egito não seria sepultado no Egito, mas que seria levado para Canaã quando o Senhor levasse Israel para lá, de modo que o livro termina com a reafirmação da promessa feita por Deus a Abraão, que era, assim, o “começo do cumprimento da promessa da redenção da humanidade”.
- Gênesis é, pois, nitidamente o “livro dos começos”, o “livro das origens”, livro cuja leitura nos permite conhecer e entender, desde o seu início, o plano de Deus para o homem, o descortinar da revelação divina para o homem.
- Ainda mencionando Finnis Jennings Dake, vemos que o tema de Gênesis é “…a criação, a queda e a redenção da raça humana através de Jesus Cristo. Em torno disso, centraliza-se toda a revelação divina e verdade das Escrituras. O livro é a sementeira de toda a Bíblia e é a correta compreensão de cada parte dela. O Gênesis é a fundação sobre a qual toda divina revelação se baseia e é construída. E não somente isso, mas entra e forma uma parte integrante de toda a revelação. Cada grande doutrina das Escrituras encontra suas raízes em Gênesis em princípio, tipo ou simples revelação…” (op.cit., p.2). Seu propósito, ainda segundo Dake, é “…revelar ao homem a origem do céu e da terra e de todas as demais coisas. Declarar Deus como um Criador pessoal e mostrar que nada evoluiu através de bilhões de anos. Registrar a história da queda do homem e a presença do pecado na terra como uma introdução para a Sua lei.…” (ibid.).
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